22 de jun. de 2021

Guimarães Rosa disse que toda saudade é uma espécie de velhice. Agora estamos todos mais velhos e mais tristes do que jamais fomos. E tudo é mais pesado e triste do que jamais foi. A sensação de ver e ouvir o mal e a bestialidade todos os dias me leva a caminhar  (alô Dante) entre o sétimo e nono círculos exaustivamente. 

Leio e repito Bishop incansavelmente tentando acalmar meu coração, mas meu cérebro repete incessante: 500 mil irmãos perdidos, inalcançáveis para o amor dos seus. 


A arte de perder
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

(tradução de Paulo Henriques Britto)

:

One Art
Elizabeth Bishop