1 de mai. de 2023

01 de maio


Diariamente a estranheza, o assombro, a impotência e tristeza vão se juntando em algum lugar inominado dentro e fora de nós ao acompanhar o apagamento (que é o oposto atenuado) de um ser humano pelo seu próprio esquecimento de si mesmo, esse deixar de ser o que sempre te definiu. Esse estar presente e desligado da realidade sabida porém esquecida aparece e é cada vez mais recorrente nas ficções. E é a primeira vez na história que a situação é vista por tantos e por tão longo tempo. Não podemos ainda dimensionar suas repercussões na história tanto singular quanto universal. Que lugar inacessível e aterrador nos espera ou nos tirará para dançar justo no momento em que não há mais pernas tão firmes para correr ou lutar?

Não havia registros, até agora, e portanto não há linha de conduta, código de ética ou procedimento psicanalítico para dizer como se comportar diante do sofrimento profundo e lacrimejante de uma criança de quase 90 anos que chora e implora pela mãe. Os juramentos todos pela verdade e honra ensinados à exaustão durante uma vida podem conviver, sem traição, à pergunta e sofrimento diários de - cadê meu marido? - Há a verdade: morreu; e haverá choro e ranger de dores, ou - foi trabalhar, viajou e logo mais está de volta - infinito pero caridoso. Mas ao mesmo tempo perverso e assustador pelo apagamento que não dá a possibilidade de digerir, de ressignificar dores e perdas. Nesses casos há beneficio ético ou terapêutico na verdade? Ou também aqui, nos afetos e amores, aplicaremos os conceitos de pós-verdade ou seguiremos Bauman em sua modernidade liquida? Sigamos trabalhadores da primeira hora, trabalhemos para pagar contas para que logo na terceira esquina te esqueças do que é trabalho ou conta. É que a máquina de moer gente não pode parar nem no seu dia. Consciência de classe, talvez esteja aí a sua resposta trabalhadores!