12 de jan. de 2011

Através da neve sussurrante eu enxergava vagamente as casinhas ao longo da Arapahoe. Eu conhecia cada um em cada casa, cada gato e cachorro da vizinhança. Na verdade, eu conhecia quase todas as dez mil pessoas de Roper, e um dia todas elas estariam mortas. Essa era também a sina de cada um na casa no fim da rua, a casa de madeira com a varanda da frente vergada, a pintura descascada e o telhado pontiagudo enviesado, a casa do pedreiro Peter Molise, onde os únicos tijolos estavam na chaminé, e até ela estava caindo aos pedaços.
Mas, quando chegasse a hora de morrer, a condição da nossa casa não importaria, e todos nós teríamos que ir – vovó Bettina seria a próxima, depois papai, depois mamãe, depois eu mesmo, uma vez que eu era o mais velho, depois meu irmão August, dois anos mais novo, depois minha irmã Clara, e finalmente meu irmãozinho Frederick. Em algum ponto do caminho, nosso cachorro Rex rastejaria para fora e morreria também.
Por que eu estava pensando nestas coisas e transformando o mundo em um cemitério? Estava afinal perdendo minha fé? Seria porque eu era pobre?
John Fante, 1933 foi um ano ruim

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