Nunca sabemos quando tudo realmente acaba. O beijo roubado que te fez voltar suspirando para casa ou cantando baixinho no ônibus pode ter sido o último. Aquela noite de amor inesquecível talvez não se repita mais. O abraço do amigo, a viagem para Porto Alegre, a conversa na varanda durante a noite fria, o banho de piscina, o pedaço de bolo de fubá com café quentinho, o passeio com o cachorro. De uma hora para outra, aleatoriamente, perdemos a chance de repetir nossos melhores momentos, e ficam apenas fragmentos, fantasmas guardados nisso que chamamos de memória.
Não dói a ausência. Dói isso que fica. Esse processo penoso que chamamos de luto não é falta, é presença. A chaga, a fratura, o órgão dilacerado, é esse vulto, essa imagem difusa que não nos deixa, a permanência do que não existe mais. O último “eu te amo” dito é um
fêmur que se parte em dois e que rasga o músculo. O primeiro segurar na mão dela é a clavícula exposta quando tudo termina. O beijo que
você relembra a cada fechar de olhos é um maxilar feito em pedaços.
Somos a soma de nossos encontros durante a existência, e alguns deles são feridas que nunca cicatrizam. No fundo, é a felicidade que mutila. Só o que é intenso deixa marcas, só o inesquecível rasga a carne. E não adianta não se colocar no mundo, não adianta fugir do outro, não adianta se esconder. A única alternativa viável para permanecer intacto é não viver.
Sendo assim, jogue-se. Quebre-se. Frature-se. E tenha orgulho de cada uma dessas marcas.
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