12 de out. de 2011

Jobs

“Enquanto Richard Stallman, o pai da Free Software Foundation, advoga por uma internet livre e por uma cultura aberta tanto na parte de hardware quanto de software, Steve Jobs conseguia se mostrar mais radical do que Bill Gates, historicamente o grande antagonista da cultura open source, quando o assunto era a lógica proprietária. Os aparelhos de sua empresa nem funcionavam com peças que fossem fabricadas para outros aparelhos e o condicionamento fechado da App Store, a loja de aplicativos da Apple, foi o que permitiu a ascensão do Google e de seu sistema operacional Android – favorável à mentalidade aberta – no setor de telefonia celular. Enquanto a natureza aberta da web foi o que permitiu sua popularização, a Apple funcionava como um condado medieval, erguendo muros altos e fortes para controlar seu próprio reino. E isso é só um aspecto do ‘mau Jobs’, convenientemente esquecido nesses dias de luto. Pessoalmente, ele era tido como um chefe cruel, intolerante, desumano. Em uma reportagem do jornal inglês Guardian, um ex-funcionário da Apple comparava a convivência com Steve Jobs a trabalhar sob a mira de um lança-chamas. Orgulhava-se de não fazer caridade e estacionava na vaga de deficientes, só porque podia. Isso sem contar a censura no ambiente digital que criava. Nudez, nem em quadrinhos. Só para ficar num caso mais clássico, quando, em 2010, a empresa censurou uma versão em quadrinhos do Ulysses, de James Joyce – ironicamente o maior romance do século 20 já havia ido a julgamento, em 1933. E nem é preciso entrar em detalhes sobre a taxa de suicídios na Foxconn, empresa que fabrica os aparelhos da Apple na China, e nas condições sub-humanas em que os produtos de sua empresa eram fabricados. Nada disso tira a genialidade do morto. Mas é bom separar uma coisa da outra. Um bom homem de negócios não é, necessariamente, um homem bom.”

Ser um bom homem de negócios não o torna um homem bom, de Alexandre Matias

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