Tenho uma relação muito dúbia com essas pessoas focadas. Essas
pessoas que passam 10, 20 anos querendo a mesma coisa. Elas vão lá e
conseguem porque se tem uma coisa que o Oriente ensinou ao pretensioso
Ocidente é que a disciplina vence o talento quando eles se encontram em
condições justas de temperatura e pressão.
Parte do tempo, considero essas pessoas focadas as mais espertas de
todas. Como elas conseguem isso? Como elas conseguem fazer escolhas e
manter escolhas numa época feita para a distração?
Na outra parte do tempo, acho que são só umas coitadas que não
entenderam o mundo em que vivem: esse mundo que te permite seguir um
tutorial de maquiagem enquanto assiste a uma aula de Yale sendo você
esse ser humano sem nenhuma capacidade de usar duas cores de base ou de
frequentar Yale.
Só falam mal desses nossos tempos de muita informação, de
conhecimento orkutizado, mas ninguém percebe que ser um generalista
exige alta dose de coragem? Exige aceitar ser apenas um aprendiz para o
resto da vida. É, só pra começar, abrir mão de qualquer ilusão de
imortalidade através de uma contribuição, de um legado.
Generalistas não escrevem obras que ficam, não são fontes de
autoridade em matérias, não são homenageados. Eles aprendem meia dúzia
de coisas pela metade e morrem com essa meia dúzia de coisas, assim
mesmo, pela metade. Tem algo de muito bonito e zen nisso aí.