Saturnão

 

Não; eu não quero trabalhar mais do que eu já trabalho. Realmente não quero comprar coisas que não preciso. Não quero entulhar a casa e o mundo com minha vaidade e ilusão de posse. Me deixa. O que quero mesmo ter é tempo... para cheirar a barriga dos gatos. Fofocar de manhã com as plantas vestindo pijamas e carregando uma caneca de café. Vistoriar o ninho de passarinho que surgiu na varanda. Assistir lives do  Cumbre Vieja em tempo real. Fazer massa de pastel no fim de tarde, só pq nunca tinha feito e porque eu posso, aguardar meu cunhado enviar a foto do dia da galinha que tá morando na praça ao lado da casa dele. Preciso de mais tempo para observar minhas emoções, fazer uma farofa com elas e servir na terapia quinzenal. Então como dizia meu irmão - "quem disse que eu tô procurando trabalho? - Não precisa se preocupar. Fiquem aí trabalhando como malucos e carregando seu fardo de tristeza e frustração. Mas, por favor, não me chamem para ir com vocês. 

Uma Escuridão Bonita

 

Li em algum lugar que se foi mesmo Deus quem criou o homem à sua imagem e semelhança ele deve tá bem decepcionado. Porque assim, realmente deu muito errado o ser humano. Mas mesmo assim tem coisa que surpreende pela maldade e frieza, tipo gente que maltrata crianças, animais e a existência de gente nível Biroliro e cia...  isso é consenso. Mas minha gente, o cara fazer a mesma tatuagem com a esposa e a amante tá nível esgoto de hospital. Tô até agora abulelé das ideias com a escrotice. Era só esse assombro mesmo, e como diria João Guima Rosa: Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..."

"Quem te conhece? Quem te enxerga? Quem distingue a tua voz de cansaço da tua voz de tristeza, quem nota o teu olhar de desapontamento?

Quem sabe que você está feliz - e o quanto - antes mesmo de você dizer qualquer coisa? Quem enxerga a tua alegria? Quem entende o teu coração? 

E você? Há alguém no mundo que você consiga enxergar assim? Ter com quem conectar-se, compartilhar, sonhar, viver, amar. Entender e ser compreendido. Só ama de verdade quem enxerga. 

Só é verdadeiramente amado quem é realmente visto. Só é visto quem se mostra inteiro e se mostrar totalmente é um ato de coragem imensa. E para enxergar o outro, inteiro, é preciso a generosidade que só o amor traz."

Boniteza do dia

 

Tem dias que vale muito a pena assinar o conteúdo premium da internet brasil... os desenhos abaixo são de alunos de uma escola construtivista que "reivindicam" o aumento do horário de recreio. Eu explodi de fofurice, encantamento e esperança no futuro. E eu se fosse professora dessa escola aderiria ao movimento de imediato, e daria força para o Enzo fazer o discurso de mobilização segurando o ursinho de pelúcia. E se a escola for esperta o bastante, aumenta o recreio em 5 minutos para dar o gostinho da vitória para quem sonha e eles sentirem o gostinho da revolução! 

E informo que perdi absolutamente tudo com o Paulo Freire saindo do túmulo para apoiar o movimento dos Enzos e Valentinas da revolucinha!! Crianças seguem sendo as melhores pessoas do universo!

 

 

 

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Setembro

 "Pisantrofobia" é o medo de confiar nas pessoas por causa de experiências ruins do passado. 

E fico aqui pensando que desde 2016 começou a me aparecer, aleatoriamente, mensagens nas mais variadas formas, sobre o esgoto vibracional que entraríamos a partir dali. Todas as vezes eu pensei "ahh nem vai ser tanto assim...". Mas segui com essa pulga atrás da orelha. Foi só em 2018 depois de acontecimentos significativos demais para ignorar que comecei a tentar entender o que ia rolar. E nem tô falando de covid. Me espanta a galera gratiluz achando que o que tá acontecendo é pra galera "aprender/melhorar"... amigos, sinto dizer, mas esse bonde já partiu. E quem tá achando que distribuir cesta básica e dar uma esmola na porta da Araújo vai contar ponto (mas se quiser pode), senta e chora. Tudo vai mudar de uma maneira jamais imaginada por nós, e socorro! Foi tudo pra ontem, grande parte das pessoas, sem nem pensar muito sobre isso, vai atravessar o furacão muito de boa. Maaassss... tem gente que é a última chance (muita gente que pegou o último trem) e eles intuem e já estão esperneando, dando vexame no salão e tentando juntar tralhas, dinheiro e coisas que não servirão para absolutamente nada. Vai ter uma galera com um transatlântico conseguido a custa de muita pisada na cabeça do amiguinho, estacionado no meio do Saara, gente correndo sem saber direito pra onde. E se não está sendo bonito de ver agora, imagina quando chegar o momento... as aparências de sucesso, felicidade e beleza que não se sustentam da porta de casa e do coração pra dentro derreterão como vela de defunto ruim. 

E é por isso que é fundamental perdoar quem vacilou com a gente. Não porque essa gente mereça, e sim porque precisamos de paz. Isso me coloca não em um transatlântico, mas ainda em um barco bem ruim. E a coisa se retroalimenta... porque me dá muita raiva das criaturas que provocam isso em mim. Eu realmente não queria me sentir assim e ainda mais pq esse BO (a relação com a natureza, a nossa agressividade, o tempo e as distâncias) tá logo ali na esquina. Simplesmente pq assinamos um contrato coletivo e seguimos sem lembrar/entender direto como e porquê. Então sigamos na tarefa diária de fazer o nosso com atenção e consciência para não escorregar no esgoto que tá quase na nossa porta. E sim, serão  cenas lamentáveis. Isso posto, infelizmente ainda não consegui (perdoar), sigo tentando e fracassando quase diariamente. E o barqueiro de Hades segue trabalhando como nunca e avisa que só precisaremos de duas moedas.

Para o alto e avante!

É muito cansativo e perigoso esse negócio de se encontrar, por isso entendo quem foge e quem se fecha. Aqui ainda não sei se aconteceu ao mesmo tempo ou foi só coincidência. A rotina/compromisso (autoimposto) de escrever todos os dias e as mensagens do mundo de lá acontecendo simultaneamente. E às vezes eu quero fazer uma pausa, descansar um pouco, não saber (sim, fui eu quem perguntou e quis saber). Todo dia dia penso - ok, tudo certo, entendi, já vi o suficiente para entender e me convencer - mas aparentemente tem algo que está me escapando, pois não para de cair no meu colo informações que eu já superei e nem quero mais saber. Aparentemente estou beeeemmm enganada. Porém cansada, chega sabe... minha cota de reviver situações bosta que eu já intuía mas não tinha certeza está esgotada. E a sensação é: queporraéessaqueaindanãoentendi

Dia 04 tenho um encontro marcado com o chip e eu espero sinceramente que nele haja respostas ou algum refresco ou que pelo menos me transmute em jacaré, saberei apreciar esse presente  surpresa como poucas pessoas. Olha aqui o que tô dizendo

 

 

 Sempre me incomodou e deixou uma certa "preguiça" de estudar e tentar entender o que se passa entre Israel e Palestina. Meio que uma intuição de que seria mais uma situação pra aumentar a revolta e desgraçar um pouco mais a cabeça. Mas como sigo firme no projeto "oserhumanoéadesgraçadagaláxia" fui atrás da treta e é isso mesmo. 

E é basicamente o modus operandi do capetalismo: não interessa se esse é o seu país, eu o quero e vou botar a minha grana suja para expulsar você e sua gente daqui. Se vão morrer velhos, crianças, mulheres, tradições, língua e tudo que te constitui "fodasse". 

E lembrando que, segundo Dante (alô Divina Comédia) o meridiano onde hoje está Jerusalém seria o lugar atingido por Lúcifer ao cair do céu expulso pelo pai celeste, o que fez da terra santa o Portal do Inferno.

Mas tem essa imagem que retrata bem um pouco do que rolou e está rolando por lá.

 

 

 Não é pra me gabar não, mas faz três dias que nao choro no banho. 

Guimarães Rosa disse que toda saudade é uma espécie de velhice. Agora estamos todos mais velhos e mais tristes do que jamais fomos. E tudo é mais pesado e triste do que jamais foi. A sensação de ver e ouvir o mal e a bestialidade todos os dias me leva a caminhar  (alô Dante) entre o sétimo e nono círculos exaustivamente. 

Leio e repito Bishop incansavelmente tentando acalmar meu coração, mas meu cérebro repete incessante: 500 mil irmãos perdidos, inalcançáveis para o amor dos seus. 

A arte de perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

(tradução de Paulo Henriques Britto)

:

One Art
Elizabeth Bishop

No pé

 

 

 

 

 

 

Saiba Sancho, que não se é um homem melhor do que outro, se não faz mais do que o outro.

"Todas essas tempestades que nos acontecem são sinais de que o tempo logo 

se acalmará e as coisas ficarão melhores, porque não é possível que o mal 

ou o bem durem muito tempo, e daí segue-se que, tendo o mal durado 

muito tempo, o bem já deve estar próximo. 

Portanto, você não deve se entristecer com os infortúnios que me acontecem, 

porque você não tem culpa por eles.

Dom Quixote 

 

 

 

Vou lançar a carta do meu marte em peixes para justificar não ter apagado esse blog lá em 2016. Agora penso que pode ser o (cof,cof) destino me trazendo de volta aqui. 

Porque quando começou a pandemia comecei a escrever o diário do isolamento em um caderno bem mequetrefe que era usado anteriormente para anotar os sonhos e tava com a letra cagada de uma pessoa tonta de sono. Mas agora que acabou o mequetrefe resolvi voltar aqui para não ter mais escritos com letra cagada e tonta de sono.

Como primeiro registro quero reafirmar meu ódio eterno e alimentado a manchetes surreais sobre milicianos governando o país. E não, não quero dialogar com pessoas cheias de acesso a informações mas que escolheram a ignorância orgulhosa, a morte, o preconceito, a homofobia, o ódio aos pobres, a burrice como estatuto. Prefiro gastar uma vida dialogando e esclarecendo pessoas simples e trabalhadoras que mal têm tempo para descansar, quanto mais buscar textos, artigos e reportagens na internet. 

Dito isso, registro também que não me arrependo e não os quero de volta  amigos, conhecidos, colegas e familiares de quem me afastei por apoiarem o miliciano da república. Não os quero na minha vida.