Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).
– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?
Bar ruím é lindo, bicho! - Antonio Prata
27 de dez. de 2008
25 de dez. de 2008
Suponha que um anjo bata à sua porta. Não se espante: é final de ano e tradicionalmente, como os balões de junho, esta data é propícia ao aparecimento de anjos. Para evitar constrangimentos ou diálogos inúteis, você está sozinho em casa. Então o anjo bate, depois você larga o que estiver fazendo, abre a porta e convida-o para entrar e sentar, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
"Pequenas epifanias” Caio Fernando de Abreu, pg. 94
24 de dez. de 2008
Prá mim e prá você...
O Jornalismo no Brasil é uma vergonha. Quase tudo o que se vê na TV ou se lê nos jornais e revistas semanais pouco tem a ver com a vida das gentes. As fontes são as oficiais e raros são os que se aventuram pelas estradas vicinais, poeirentas, da vida real. Melhor é ficar no gabinete, nas salas acarpetadas, com ar condicionado, a sorver cafezinho e ouvir, reverente, a voz do poder. Isso dá muito mais lucro. Pode colocar um jornalista nas graças dos que mandam. Isso significa verbas adicionais e fama.. Quem não quer?
O ser humano normal sonha com isso. Trabalhar na Globo, aparecer em rede nacional, ser reconhecido no supermercado. E, de quebra, ainda ter uma boa poupança para os tempos difíceis. Para isso, só vale uma regra: não brigar com o poder. Servilismo, servidão. Dar murro em ponta de faca pra quê? Bobagens de quem não tem família para sustentar.
Pois o jornalista iraquiano Muntadar al-Zeidi fez o improvável. Ele não escreveu qualquer matéria, não ficou perdido entre anotações, não usou câmera escondida, não foi para frente de batalha, não mergulhou em documentos, sequer narrou a vida desgraçada dos seus compatriotas, acossados pela ganância estadunidense. Ele apenas arremessou um sapato contra o rei. Numa situação absolutamente normótica, quando os jornalistas se aglomeram para fazer perguntas idiotas a um energúmeno completo como é o presidente estadunidense, sem que absolutamente seja aventada qualquer possibilidade de um questionamento embaraçoso paro o poder, o homem, jornalista, explodiu.
Não era terrorista, nem homem-bomba, nem nada. Só uma pessoa, cansada de servir àquele que nada mais era do que um gangster de terceira classe. Mas que, por tanto tempo nos píncaros da gloria, comandando o exército mais poderoso da terra, havia de ser temido. E assim, não bastando ter destruído toda a cultura do Iraque, matado sua gente, destruído sua auto-estima, massacrado sua honra, ainda se deu ao luxo de ir dizer “goodbay” . Tripudiava , pisoteava, humilhava um pouco mais aquele povo que até hoje, passados cinco anos, ainda morre pelo simples fato de ser o que é.
O ser humano normal sonha com isso. Trabalhar na Globo, aparecer em rede nacional, ser reconhecido no supermercado. E, de quebra, ainda ter uma boa poupança para os tempos difíceis. Para isso, só vale uma regra: não brigar com o poder. Servilismo, servidão. Dar murro em ponta de faca pra quê? Bobagens de quem não tem família para sustentar.
Pois o jornalista iraquiano Muntadar al-Zeidi fez o improvável. Ele não escreveu qualquer matéria, não ficou perdido entre anotações, não usou câmera escondida, não foi para frente de batalha, não mergulhou em documentos, sequer narrou a vida desgraçada dos seus compatriotas, acossados pela ganância estadunidense. Ele apenas arremessou um sapato contra o rei. Numa situação absolutamente normótica, quando os jornalistas se aglomeram para fazer perguntas idiotas a um energúmeno completo como é o presidente estadunidense, sem que absolutamente seja aventada qualquer possibilidade de um questionamento embaraçoso paro o poder, o homem, jornalista, explodiu.
Não era terrorista, nem homem-bomba, nem nada. Só uma pessoa, cansada de servir àquele que nada mais era do que um gangster de terceira classe. Mas que, por tanto tempo nos píncaros da gloria, comandando o exército mais poderoso da terra, havia de ser temido. E assim, não bastando ter destruído toda a cultura do Iraque, matado sua gente, destruído sua auto-estima, massacrado sua honra, ainda se deu ao luxo de ir dizer “goodbay” . Tripudiava , pisoteava, humilhava um pouco mais aquele povo que até hoje, passados cinco anos, ainda morre pelo simples fato de ser o que é.
Que venha o jornalismo
Por Elaine Tavares – jornalista
23 de dez. de 2008
20 de dez. de 2008
Jean Paul Sartre
O que eu amo em minha loucura é que ela me protegeu, desde o primeiro dia, contra as seduções da "elite": nunca me julguei feliz proprietário de um talento; minha única preocupação era salvar-me - nada nas mãos, nada nos bolsos - pelo trabalho e pela fé. Desta feita, minha pura opção não me elevava acima de ninguém: sem equipamento, sem instrumental, lancei-me por inteiro à ação para salvar-me por inteiro. Se guardo a impossível Salvação na loja dos acessórios, o que resta? Todo um homem, feito de todos os homens, que lhe valem todos e a quem vale não importa quem.
Isso não é prá mim
Foi deveras ruím, reprovei alguém pela primeira vez na vida (oficialmente, quero dizer). Me senti a serpente do paraíso... tipo como se a culpa fosse minha. E não foi, pelo contrário, a maldita perdeu uma prova pq o namorado quebrou o pé, não entregou um trabalho pq a religião dela não permite que se faça coisa alguma no sabádo ou domingo, sei lá... e tbém não entregou na nova data que eu amigavelmente solicitei. E teve a cara de vir me perguntar se não rolava de "dar" os pontos que faltavam prá ela passar... imaginem o que ela ouviu!?!?
- O exame especial é semana que vem, a gente se vê lá...
- O exame especial é semana que vem, a gente se vê lá...
19 de dez. de 2008
Tia MM
Hoje eu vi uma mãe dando coca-cola para uma criança de 02 anos, outra arrastando um pequeno de no máximo 03 anos pelo shopping em meio a um milhão de sacolas e a pior parte, uma mulher comprando um dvd da xuxa para uma fofinha de 02 ou 03 anos... Sim eu me revolto e acho que tem gente que não merece ter filhos. Eu sei tbém que não devo me meter na vida alheia, mas me espanta a pessoa ter filhos e não saber que xuxa é lixo, coca-cola veneno e que criança é a prioridade e não as sacolas de compras. Sim, eu ando pelo mundo querendo educar os filhos dos outros.
18 de dez. de 2008
Férias escolares...
- Gubici, posso pedir uma coisa?
- Ihhh, se for mudar o presente de natal já era... pq eu já comprei...
- Não, é outra coisa...
- O que é?
- Se vc for casar de novo, vc deixa eu e a Dadá ser sua daminha de honra?
- ...
Meu pai tá rindo desde então... sem parar...
- Ihhh, se for mudar o presente de natal já era... pq eu já comprei...
- Não, é outra coisa...
- O que é?
- Se vc for casar de novo, vc deixa eu e a Dadá ser sua daminha de honra?
- ...
Meu pai tá rindo desde então... sem parar...
Espírito Natalino
- Ihhh gente, temos que decidir a comida da noite de natal...
- Pois é, lombo o fulano não come, peru o ciclano odeia, bacalhau tá caro...
E por aí vai...
- Putz, só vai ter carne nessa ceia?
- ... é mesmo, tem a enjoadinhanãocomecarne!!!
- Pode fazer uma sopa de legumes pra ela... e prá acompanhar abobrinha recheada com cebola, hahahahahahaha...
- Pai; menos tá bom?
- Mas não come nem um camarão de vez em quando, nem um bolinho de bacalhau?
- Não, não come nem galinha que é o bicho mais chato do mundo!
- Ahhh, eu aprendi a fazer uma farofa de jiló ma-ra-vi-lho-sa!!!!
- Haahahahahahahaha... pode ser isso aí prá ela. Hahahahahahahahaha... boa!!!
- Tia, você definitivamente é irmã do meu pai!!!! Não tem dúvida!
- Pois é, lombo o fulano não come, peru o ciclano odeia, bacalhau tá caro...
E por aí vai...
- Putz, só vai ter carne nessa ceia?
- ... é mesmo, tem a enjoadinhanãocomecarne!!!
- Pode fazer uma sopa de legumes pra ela... e prá acompanhar abobrinha recheada com cebola, hahahahahahaha...
- Pai; menos tá bom?
- Mas não come nem um camarão de vez em quando, nem um bolinho de bacalhau?
- Não, não come nem galinha que é o bicho mais chato do mundo!
- Ahhh, eu aprendi a fazer uma farofa de jiló ma-ra-vi-lho-sa!!!!
- Haahahahahahahaha... pode ser isso aí prá ela. Hahahahahahahahaha... boa!!!
- Tia, você definitivamente é irmã do meu pai!!!! Não tem dúvida!
16 de dez. de 2008
15 de dez. de 2008
Normalmente eu venho a pé, porque é mais instigante, acorda o corpo e os sentidos, é bom para o planeta, para o meu corpo e para o meu bolso neste findeano de vacas magras. Mas hj acordei com o barulho da chuva e desejei ardentemente ser a felizarda que ganhou na mega sena e não precisar sair de casa no meio do temporal na segunda de manhã. Vim de ônibus, o que acabou se revelando a mesma molhaceira que se tivesse vindo a pé... e muito menos divertido. Enfim, passarei o resto da manhã de meias no trabalho, até que os sapatos desafoguem um pouco. E as pessoas do meu andar continuarão a ter motivos para me considerar uma pessoa estranha e eu continuarei a não me importar, a fazer perguntas irritantes quando elas contam estórias imbecis, e dizer não quando eu não tiver vontade de fazer o que elas me pedem, a não falar com quem eu não gosto. Só que agora tem uma novidadenova; me nego a brigar. Pra quê? Passei a vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. O que eu quero mesmo, de verdade, do fundo do meu coração, que chegue logo as oito da noite prá me encontar com metade de um "lex" e esquecer, apagar, dormir, descansar, não pensar, não sentir, não ser.
14 de dez. de 2008
Científico... hj não tem clube!
A palavra "domingo" é originária do latim Dies Dominica que significa "Dia do Senhor". Existe, nessa mesma acepção, em espanhol (Domingo), italiano (Domenica) e francês (Dimanche).
Diz a lenda dos índios Guarani que o seu Deus Sol, Ñamandu, antes de criar a Terra, e antes de criar os homens, criou a linguagem. E no princípio era o verbo.
Então eu queria poder chamar domingo de Ñamandu (O Deus Sol), já que os alemães têm o direito de chamá-lo Sonntag e os ingleses de Sunday, assim maiúsculos.
Nós, com nosso minúsculo domingo, não chamamos o sol. E ele, injuriado por não ouvir seu nome, se cobre com seu manto cinza, e vai mesmo é tirar um cochilo.
Diz a lenda dos índios Guarani que o seu Deus Sol, Ñamandu, antes de criar a Terra, e antes de criar os homens, criou a linguagem. E no princípio era o verbo.
Então eu queria poder chamar domingo de Ñamandu (O Deus Sol), já que os alemães têm o direito de chamá-lo Sonntag e os ingleses de Sunday, assim maiúsculos.
Nós, com nosso minúsculo domingo, não chamamos o sol. E ele, injuriado por não ouvir seu nome, se cobre com seu manto cinza, e vai mesmo é tirar um cochilo.
13 de dez. de 2008
12 de dez. de 2008
Disexta
No me gusta ganar
me gusta vencer
No me gusta el olvido
prefiero la nostalgia
No me gusta la oscuridad
me gusta la noche
No me gustan los aviones
me gusta volar
No me gusta el calor
prefiero el verano
No me gusta rezar
prefiero la oraciòn
No me gusta dormir
me gusta soñar
No me gusta la democracia
me gusta la polìtica
No me gusta obedecer
prefiero mentir
No me gustan las cerraduras
prefiero las iniciales
No me gusta el ocio
me gusta el rocìo
me gusta vencer
No me gusta el olvido
prefiero la nostalgia
No me gusta la oscuridad
me gusta la noche
No me gustan los aviones
me gusta volar
No me gusta el calor
prefiero el verano
No me gusta rezar
prefiero la oraciòn
No me gusta dormir
me gusta soñar
No me gusta la democracia
me gusta la polìtica
No me gusta obedecer
prefiero mentir
No me gustan las cerraduras
prefiero las iniciales
No me gusta el ocio
me gusta el rocìo
Daniel Ballester - Argentina
O Circo Orlando Orfei ligou e pediu a lona de volta!
Tristeza gorda, imperial... Quase não dá pra suportar, mas sempre dá. É sempre melhor quando é às claras, cartas na mesa e navios ao mar!
6 de dez. de 2008
Leia nas férias...
Às vezes com a pessoa a quem amo
Fico cheio de raiva
Por medo de estar só eu dando amor
Sem ser retribuído;
Agora eu penso que não pode haver amor
Sem retribuição, que a paga é certa
De uma forma ou de outra.
(Amei certa pessoa ardentemente
e meu amor não foi correspondido,
mas foi daí que tirei estes cantos.)
Walt Whitman
Walt Whitman
5 de dez. de 2008
2 de dez. de 2008
E ainda tem a tpm...
28 de nov. de 2008
Imperdível...
Pacacete
A criatura me dizer que eu sou uma pessoa fresca e o sexo virtual das minhocas africana têm a mesma importância prá mim... nenhuma. E eu nem procuro entender. Assino embaixo com o meu polegar direito.
25 de nov. de 2008
Para se inspirar...
Filme brasileiro concorre no cinema prospérité, que é um concurso internacional organizado pela Seven Fund, cuja missão é erradicar a pobreza no mundo. Produzido pela ONG Turma do Bem'. Lindo e comovente. Cada um pode fazer uma parte...
22 de nov. de 2008
16 de nov. de 2008
Niver Jana
12 de nov. de 2008
11 de nov. de 2008
7 de nov. de 2008
Ais
O trabalho é solitário, só vc sabe o que tem feito, não há com quem dividir alegrias, dúvidas, decepções e tristezas. Ninguém se interessa, o mundo tá acontecendo e vc se vê, numa sexta-feira à noite, com a vida cheia de dúvidas em línguas que vc não domina... Deus, eu quero falar com o gerente!!
6 de nov. de 2008
Sutilmente
“Percebo que o lance de notações tipo agendinha tem a ver com certa briga entre fora e dentro, registro e psicologia, cenografia e interioridade. Registrar com um muxoxo de quem não pudesse derramar. Mas para não ficar neo-realista só vale se a tensão passar. Tem mais aí? Ai, um batonzinho.”
Ana Cristina Cesar, Correspondência Incompleta
5 de nov. de 2008
Pastilha psicodélica
Decepção com a covardia e a mesquinhez do ser humano, de ver gente se enganando e a outros por meia dúzia de migalhas, fazendo de conta que vive mas morrendo de medo da vida, todo dia um pouquinho prá se enganar que tá construindo um futuro. Vontade de mandar essa gente toda enfiar alguma coisa em algum lugar... no sentido bíblico, é claro. E é por isso que eu assisto ao missionário RR Soares (Band), taí um cara que me comove e emociona... principalmente quando ensina aos fiéis como pagar o boleto do dízimo no Bradesco. Assim caminha a humanidade. Leve-me, senhor!
4 de nov. de 2008
Para Dani
"Quando se escreve alguma coisa, essa coisa fica assente. Transforma-se num dogma. E depois as pessoas podem discuti-lo, tornam-se autoritárias, fazem referências aos textos, produzem novos manuscritos, discutem mais e não tarda nada estão a matar-se uns aos outros. Se nunca escreveres nada, então ninguém sabe exactamente o que disseste e, por isso, podes sempre mudar de opinião. Será que tenho de te explicar tudo?"
Merlim, Crônicas do Senhor da Guerra
2 de nov. de 2008
1 de nov. de 2008
31 de out. de 2008
Prá pensar no finde...
“O inferno dos vivos não é algo que vai existir: se existe, já está aqui, o inferno de nossa vida cotidiana, formado pelo fato de vivermos juntos. Há duas formas de suportá-lo. A primeira é a que muitos acham fácil: aceitar o inferno e tornar-se parte dele, até não o ver mais. A segunda é arriscada e exige constante atenção e aprendizado: no meio do inferno procurar e saber reconhecer o que não é inferno, fazê-lo durar, dar-lhe espaço”.
Cidades Invisíveis, Italo Calvino
26 de out. de 2008
21 de out. de 2008
Simpatia, não trabalhamos.
- Por que vc nunca me disse que tem um blog?
- Basicamente porque vc não é meu amigo.
- Mas agora a gente tá nesse projeto juntos, acaba que se fala todo dia...
- Eu falo todo dia com o trocador do ônibus e ainda assim ele não é meu amigo...
- Putz... tô querendo ser simpático, legal e vc só na grosseria...
- Não, é que vc não me conhece direito... não é grosseria, eu falo assim mesmo, com todo mundo.
- Até com seus amigos?
- Principalmente com eles.
- Acho então que quero continuar sendo só seu colega...
- Vc quem sabe, nunca foi meu sonho ser amiga de um cara que "amasaladaderúcula"...
- Ãh?! Como vc sabe...
- Eu ouvi vc falar isso na cantina outro dia.
- E daí, vc não gosta de salada de rúcula?
- Até gosto, mas achei nojentinho o "amosaladaderúcula"...
- Quero ser seu amigo de jeito nenhum... além de tudo é preconceituosa...
- Quem começou essa estória de ser meu amigo foi vc... eu prefiro ser colega, acho mais a cara de quem "amasaladaderúcula"
- Basicamente porque vc não é meu amigo.
- Mas agora a gente tá nesse projeto juntos, acaba que se fala todo dia...
- Eu falo todo dia com o trocador do ônibus e ainda assim ele não é meu amigo...
- Putz... tô querendo ser simpático, legal e vc só na grosseria...
- Não, é que vc não me conhece direito... não é grosseria, eu falo assim mesmo, com todo mundo.
- Até com seus amigos?
- Principalmente com eles.
- Acho então que quero continuar sendo só seu colega...
- Vc quem sabe, nunca foi meu sonho ser amiga de um cara que "amasaladaderúcula"...
- Ãh?! Como vc sabe...
- Eu ouvi vc falar isso na cantina outro dia.
- E daí, vc não gosta de salada de rúcula?
- Até gosto, mas achei nojentinho o "amosaladaderúcula"...
- Quero ser seu amigo de jeito nenhum... além de tudo é preconceituosa...
- Quem começou essa estória de ser meu amigo foi vc... eu prefiro ser colega, acho mais a cara de quem "amasaladaderúcula"
20 de out. de 2008
De volta...
A ciência, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!
Aquela mulher que trabalha
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!
A ciência! Como é pobre e nada!
Rico é o que alma dá e tem.
Rico é o que alma dá e tem.
Fernando Pessoa
10 de out. de 2008
Tendí
Professor: é como se chama a pessoa que continua falando quando as pessoas não estão interessadas...
6 de out. de 2008
È isso aí...
A ciência, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!
Aquela mulher que trabalha
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!
A ciência!
Como é pobre e nada!
Rico é o que alma dá e tem.
Como é pobre e nada!
Rico é o que alma dá e tem.
Fernando Pessoa
5 de out. de 2008
Meu jardineiro fiel...
Todas as coisas tem o seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o tempo que a cada uma foi prescrito. Há tempo de nascer e tempo de morrer. Há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Há tempo de matar e tempo de sarar. Há tempo de destruir e de edificar. Há tempo de chorar e tempo de rir. Há tempo de se afligir e tempo de dançar. Há tempo de espalhar pedras e tempo de as ajuntar. Há tempo de dar abraços e tempo de se afastar deles. Há tempo de adquirir e tempo de perder. Há tempo de guardar e tempo de lançar fora. Há tempo de rasgar e tempo de coser. Há tempo de calar e tempo de falar. Há tempo de amor e tempo de ódio. Há tempo de guerra e tempo de paz."
Eclesiastes capítulo 3, v. 1-8
4 de out. de 2008
1 de out. de 2008
30 de set. de 2008
29 de set. de 2008
Não é?
"É o sinal do fim dos tempos. Dercy morreu, Sandy não é mais virgem, Britney voltando ao normal e o trema vai morrer oficialmente."
Priscila Freitas
Pai só tem um
Sexta à noite:
Pronta prá sair, vestidicho, make, cabelinho ajeitado, toda fófis...
- Cê vai sair?
- Não, eu vou dormir assim... vai que eu sonho com o Reinaldo Gianechinni.
- Hahahahahahaha...
- Ele vai sair correndo achando que tá no inferno exclusivo das mulheres de tpm!!
Pronta prá sair, vestidicho, make, cabelinho ajeitado, toda fófis...
- Cê vai sair?
- Não, eu vou dormir assim... vai que eu sonho com o Reinaldo Gianechinni.
- Hahahahahahaha...
- Ele vai sair correndo achando que tá no inferno exclusivo das mulheres de tpm!!
Eu tenho e é meu!!!!!!!!
Foi exatamente assim...
"Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como devorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante." Clarice Lispector in Felicidade Clandestina.
28 de set. de 2008
isto
O Que Há
O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Heterônimo: Álvaro de Campos
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
27 de set. de 2008
Nobel
É dele um dos livros que mudou as minhas muitas "certezas absolutas" e a minha vida, O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, recomendo então. E este texto tá no blog dele e eu achei muito bom, ainda que este não tenha mudado a minha vida é bem interessante...
A prova do algodão
José Saramago
.
Segundo a Carta do Direitos Humanos, no seu artigo 12º.: “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida, na sua família ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação”. E mais: “Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei”. Assim está escrito. O papel exibe, entre outras, a assinatura do representante dos Estados Unidos, a qual assumiria, por via de consequência, o compromisso dos Estados Unidos no que toca ao cumprimento efectivo das disposições contidas na mesma Carta, porém, para vergonha sua e nossa, essas disposições nada valem, sobretudo quando a mesma lei que deveria proteger, não só não o faz, como homologa com a sua autoridade as maiores arbitrariedades, incluindo aquelas que o dito artigo 12º. enumera para condenar. Para os Estados Unidos qualquer pessoa, seja emigrante ou simples turista, indiferentemente da sua actividade profissional, é um delinquente potencial que está obrigado, como em Kafka, a provar a sua inocência sem saber de que o acusam. Honra, dignidade, reputação, são palavras hilariantes para os cães cerberos que guardam as entradas do país. Já conhecíamos isto, já o havíamos experimentado em interrogatórios conduzidos intencionalmente de forma humilhante, já tínhamos sido olhados pelo agente de turno como se fôssemos o mais repugnante dos vermes. Enfim, já estávamos habituados a ser maltratados.
Mas agora surge algo novo, uma volta mais ao parafuso opressor. A Casa Branca, onde se hospeda o homem mais poderoso do planeta, como dizem os jornalistas em crise de inspiração, a Casa Branca, insistimos, autorizou os agentes de polícia das fronteiras a analisar e revisar documentos de qualquer cidadão estrangeiro ou norte-americano, ainda que não existam suspeitas de que essa pessoa tenha intenção de participar num atentado. Tais documentos serão conservados “por um razoável espaço de tempo” numa imensa biblioteca onde se guarda todo o tipo de dados pessoais, desde simples agendas de contactos a correios electrónicos supostamente confidenciais. Ali se irá guardando também uma quantidade incalculável de cópias de discos duros dos nossos computadores de cada vez que nos apresentarmos para entrar nos Estados Unidos por qualquer das suas fronteiras. Com todos os seus conteúdos: trabalhos de investigação cintífica, tecnológica, criativa, teses académicas, ou um simples poema de amor. “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada”, diz o pobre do artigo 12º. E nós dizemos: veja-se o pouco que vale a assinatura de um presidente da maior democracia do mundo.
Aqui está. Praticámos sobre os Estados Unidos a infalível prova do algodão, e eis o que verificámos: não se limitam a estar sujos, estão sujíssimos.
http://caderno.josesaramago.org/
A prova do algodão
José Saramago
.
Segundo a Carta do Direitos Humanos, no seu artigo 12º.: “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida, na sua família ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação”. E mais: “Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei”. Assim está escrito. O papel exibe, entre outras, a assinatura do representante dos Estados Unidos, a qual assumiria, por via de consequência, o compromisso dos Estados Unidos no que toca ao cumprimento efectivo das disposições contidas na mesma Carta, porém, para vergonha sua e nossa, essas disposições nada valem, sobretudo quando a mesma lei que deveria proteger, não só não o faz, como homologa com a sua autoridade as maiores arbitrariedades, incluindo aquelas que o dito artigo 12º. enumera para condenar. Para os Estados Unidos qualquer pessoa, seja emigrante ou simples turista, indiferentemente da sua actividade profissional, é um delinquente potencial que está obrigado, como em Kafka, a provar a sua inocência sem saber de que o acusam. Honra, dignidade, reputação, são palavras hilariantes para os cães cerberos que guardam as entradas do país. Já conhecíamos isto, já o havíamos experimentado em interrogatórios conduzidos intencionalmente de forma humilhante, já tínhamos sido olhados pelo agente de turno como se fôssemos o mais repugnante dos vermes. Enfim, já estávamos habituados a ser maltratados.
Mas agora surge algo novo, uma volta mais ao parafuso opressor. A Casa Branca, onde se hospeda o homem mais poderoso do planeta, como dizem os jornalistas em crise de inspiração, a Casa Branca, insistimos, autorizou os agentes de polícia das fronteiras a analisar e revisar documentos de qualquer cidadão estrangeiro ou norte-americano, ainda que não existam suspeitas de que essa pessoa tenha intenção de participar num atentado. Tais documentos serão conservados “por um razoável espaço de tempo” numa imensa biblioteca onde se guarda todo o tipo de dados pessoais, desde simples agendas de contactos a correios electrónicos supostamente confidenciais. Ali se irá guardando também uma quantidade incalculável de cópias de discos duros dos nossos computadores de cada vez que nos apresentarmos para entrar nos Estados Unidos por qualquer das suas fronteiras. Com todos os seus conteúdos: trabalhos de investigação cintífica, tecnológica, criativa, teses académicas, ou um simples poema de amor. “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada”, diz o pobre do artigo 12º. E nós dizemos: veja-se o pouco que vale a assinatura de um presidente da maior democracia do mundo.
Aqui está. Praticámos sobre os Estados Unidos a infalível prova do algodão, e eis o que verificámos: não se limitam a estar sujos, estão sujíssimos.
http://caderno.josesaramago.org/
26 de set. de 2008
25 de set. de 2008
24 de set. de 2008
Pisando no País das Maravilhas...
"(...) Alice já estava acostumada a não esperar nada senão coisas extraordinárias acontecendo, que as coisas acontecerem de uma maneira normal parececia chatice."
23 de set. de 2008
Hoy
Sua alma sente necessidade de compartilhar com alguém o que compreende e vê em relação ao futuro, mas nesta parte do caminho se encontra só, rodeada de gente que pede explicações, mas que, no fundo, não quer ouvi-las. Melhor seguir em frente.
22 de set. de 2008
21 de set. de 2008
Do dia
Versos íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos - "O Poeta do Eu"
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos - "O Poeta do Eu"
20 de set. de 2008
Cia do Boi
Hoje eu tô deveras romântica e sentimental. Enfim, não era um bom dia para aceitar o convite para ir a uma churrascaria. Fiquei com vontade de chorar a cada vez que o garçon passava com o espeto mórbido... mas como eu sou sem noção, fui. Reclamei e fiquei pensando que definitivamente, não gosto de carne. Fiquei pensando que o boizinho tinha uma família e era apaixonado por uma vaca que sonhava em viver com ele para sempre, mas não foi possível porque, agora, um pedaço da sua bunda está na borda direita do meu prato.
19 de set. de 2008
18 de set. de 2008
Uma angústia de cada vez...
-“Vamos, não há razão para chorar assim”, disse Alice.
-“Eu lhe aconselho deixar isso pra lá neste minuto.”
Normalmente ela se dava bons conselhos (embora raramente os seguisse) e às vezes repreendia-se tão severamente que chegava a ficar com lágrimas nos olhos, e uma vez ainda lembrava-se de ter tentado boxear suas próprias orelhas por ter trapaceado consigo mesma em um jogo de críquete que jogava com ela mesma, pois essa curiosa criança gostava de fingir ser duas pessoas.
- “Mas não adianta agora”, pensou a pobre Alice, -“querer ser duas pessoas!
Porque é suficientemente difícil para mim ser uma pessoa respeitável.”
-“Eu lhe aconselho deixar isso pra lá neste minuto.”
Normalmente ela se dava bons conselhos (embora raramente os seguisse) e às vezes repreendia-se tão severamente que chegava a ficar com lágrimas nos olhos, e uma vez ainda lembrava-se de ter tentado boxear suas próprias orelhas por ter trapaceado consigo mesma em um jogo de críquete que jogava com ela mesma, pois essa curiosa criança gostava de fingir ser duas pessoas.
- “Mas não adianta agora”, pensou a pobre Alice, -“querer ser duas pessoas!
Porque é suficientemente difícil para mim ser uma pessoa respeitável.”
16 de set. de 2008
12 de set. de 2008
Sexta Cecília
Tenho fases como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia.
Seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No meu dia de alguém ser meu
Não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
O outro desapareceu...
Cecília Meirelles
11 de set. de 2008
7 de set. de 2008
Para Maria da Graça
Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?" Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.
Paulo Mendes Campos
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?" Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.
Paulo Mendes Campos
4 de set. de 2008
Gi, a "balarina"
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Ciranda da Bailarina
Chico Buarque
Mais feliz que o Mc lanche feliz
Sabe um daqueles dias em que tudo que está agarrado, truncado, sem solução e vc desesperada, sem tesão, com vontade de jogar tudo prá debaixo do tapete do fim dos tempos? E eis que a solução clara, completa e absoluta aparece na sua frente, tingida pelo batom vermelho das vingativas ordinárias... tipo o triunfo da língua reflete o triunfo do futebol e dos remédios tarja preta!!! E eu sei que isso só acontece quando há "aquele" alinhamento astral de vênus e saturno na 17ª casa em uma "noite de eclipse solar". Ducacete!! Então bora sair prá dançar e comemorar a saída do limbo...
2 de set. de 2008
1 de set. de 2008
29 de ago. de 2008
Assinar:
Postagens (Atom)