16 de mai. de 2009

Perfeição

Nunca postei nada dele no blog, sei lá porque, reverência, respeito, ciúme, medo, sei lá por qual motivo... o fato é que ele é o "ícone", o nome maior, minha mais profunda admiração, talvez até um mito... prá mim, sem dúvida, o maior poeta brasileiro... sempre!!!



1

Catar feijão se limita com escrever:

joga-se os grãos na água do alguidar

e as palavras na folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,

água congelada, por chumbo seu verbo:

pois para catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2

Ora, nesse catar feijão entra um risco:

o de que entre os grãos pesados entre

um grão qualquer, pedra ou indigesto,

um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras:

a pedra dá à frase seu grão mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,

açula a atenção, isca-a como o risco.

Catar Feijão - João Cabral de Melo Neto



Nenhum comentário: