"Na Idade Média, costumavam mandar animais a julgamento _gafanhotos que destruíam plantações, carunchos que destruíam as vigas das igrejas, porcos que jantavam bêbados caídos na sarjeta. Às vezes, o animal era levado ao tribunal, às vezes (como acontecia com insetos) era julgado necessariamente in absentia. Havia um julgamento completo, com promotoria, defesa e um juiz de toga, que podia ordenar uma variedade de punições _liberdade condicional, banimento, inclusive excomunhão. Às vezes até mesmo execução judicial: um porco podia se enforcado por um funcionário do tribunal de luvas e capuz. (...) Para nós, isso pode parecer mais uma prova da engenhosa bestialidade humana. Entretanto, há outra maneira de interpretar: como uma elevação do status dos animais. Eles eram parte da criação de Deus e dos desígnios de Deus, não simplesmente colocados na Terra para prazer e uso do Homem. As autoridades medievais levavam os animais a julgamento e avaliavam seriamente seus atos criminosos; nós colocamos animais em campos de concentração, os enchemos de hormônios e os retalhamos de forma que eles nos façam lembrar o mínimo possível de algo que um dia grasnou, ou baliu, ou mugiu. Qual dos mundos é o mais sério? Qual o mais avançado moralmente?"
Trecho do artigo A Consciência da Morte, de Julian Barnes, publicado pela revista Piauí de agosto de 2009
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