8 de dez. de 2011

Sal na ferida

eu que não falo de mim, nem de você.que só quero ouvir Blur.quero crescer e te deixar em paz. quero me salvar. mas só escrevo, mesmo escrevendo pouco ante tudo o que não há .

2 de dez. de 2011

“uma sapataria sem importância
uma sapataria vagabunda
que vejo
quando subo a Consolação
voltando do trabalho
uma sapataria que não me faz lembrar de nada
em especial
uma sapataria onde nunca entrei
e onde portanto não encontrei
o meu amor
nem vivi
algo que aos 20 anos eu chamaria de
epifania
uma sapataria
cujo sapateiro não engraxa os meus sapatos
porque é longe de casa
ou porque não uso sapato
um lugar que não me intriga
não me comove
não me provoca nenhum pensamento
sobre a atual situação econômica
do Brasil
uma sapataria sem grandes semelhanças
com bicicletas
e cassinos uruguaios
uma sapataria que não depende de mim”
Bicicletas, poema de Fabrício Corsaletti

1 de dez. de 2011

a louca no sótão

Amigo pra mim é quem se importa.
E amigo, o que é amigo pra você?
Desculpe, precisei perguntar.
As coisas às vezes ficam confusas
E eu saio do ar, como uma tv velha,
Uma tv de tubo.
Sou um bicho antiquado
Preciso de margem, padeço de esperança.
Completamente obsoleta. Coisa de museu.
E as palavras, as palavras mudaram?
O que é amigo pra você?

30 de nov. de 2011

Linha direta

“Duas irmãs, 7 e 10 anos, conversam, diálogo real.
A mais nova pergunta:
- Por que as pessoas falam ‘amêndoa’ quando acabam de rezar?
- Não é amêndoa, é amém!
- O que é amém?
- Amém é tipo ‘câmbio’, para avisar Deus que você está desligando…”

26 de nov. de 2011


Será que este caminho tem coração? Se tem, o caminho é bom; se não tem, não presta. Nenhum dos caminhos leva a parte alguma; mas um tem coração, o outro não tem. Um proporciona uma viagem com alegria; na medida em que se o seguires, serás uno com ele. Outro levar-te-á a amaldiçoar a vida.
Don Juan

Tobias Schneebaum, "Lá onde o rio te leva", Antigona, 1990

25 de nov. de 2011

A saudade gorducha


chegou de novo e mais uma vez. e foi aí que eu percebi que depois que você se foi este blog virou um epitáfio.

17 de nov. de 2011

Lisa: Odeio passear no zoológico. Sinto pena dos animais.
Homer: Filha, o zoológico representa todo um novo mundo para os animais. Na natureza, eles nunca poderiam vivenciar tédio, obesidade, perda de objetivos - você sabe: o sonho americano de liberdade!”
Trecho do desenho Os Simpsons

15 de nov. de 2011

O Universidade, EAD e Software Livre 2011.2 já começou movimentado, com mais de 1300 visitas no primeiro dia.
Os temas mais procurados no primeiro dia foram o software livre na universidade, graduação a distância e emprego de software livre em empresas.


7 de nov. de 2011

    O grupo Texto Livre está à frente de 3 eventos neste mês de novembro: o dia da Cultura Livre, o UEADSL2011.2 e o UEADSL-Pós2011.
    O Dia Da Cultura Livre é um evento semi-presencial, que acontecerá desta vez junto com o Seminário Nacional de Dança Contemporânea no prédio da EEFFTO/UFMG, no dia 9/11. A programação conta com palestras online e presenciais, com interação no local e no blog do UEADSL, que também vai abrigar as palestras assíncronas. O ponto alto do Dia da Cultura Livre este ano é a montagem de um Debate Performático, com a participação de músicos, cineasta, escritor e bailarinos. Eles já vem montando parte do material que será usado na performance artístico-tecnológica prevista para acontecer às 17h. A performance será disponibilizada após o evento. Uma amostra da performance é o Debate Performático Liberdade Já!, montado no FISL12 e disponível online.
    O UEADSL2011.2 é a terceira edição do Universidade, EAD e Software Livre, um evento online assíncrono no qual estudantes de graduação, membros de comunidades diversas e outros interessados debatem a tríade temática fundamental do evento. Este semestre o evento terá, no encerramento, três mesas redondas online a serem abertas já no próximo fim de semana, estimulando o debate sobre o assunto. O UEADSL2011.2 acontece de 14 a 20 de novembro.
    O UEADSL-Pós2011 é um evento dedicado a trabalhos de pós-graduação, nos mesmos moldes do UEADSL, mas fechado em torno de um tema específico. Este ano o tema principal do evento é Ciberbullying e o evento, previsto para acontecer de 27 de novembro a 1 de dezembro, está com inscrições abertas até o dia 10 (maiores informações: ueadsl em textolivre ponto pro ponto br).
    O grupo Texto Livre é o grupo responsável pelas ações de extensão e pesquisa do laboratório SEMIOTEC da Faculdade de Letras da UFMG e conta com o apoio da FAPEMIG.
    Fiquem atentos às notícias sobre os eventos e sejam todos bem vindos! 
     
http://under-linux.org/blogs/acris/eventos-do-texto-livre-em-novembro-2539/.
     

Inhotim


4 de nov. de 2011

Ju, miabraça?

Tenho uma relação muito dúbia com essas pessoas focadas. Essas pessoas que passam 10,  20 anos querendo a mesma coisa. Elas vão lá e conseguem porque se tem uma coisa que o Oriente ensinou ao pretensioso Ocidente é que a disciplina vence o talento quando eles se encontram em condições justas de temperatura e pressão.
Parte do tempo, considero essas pessoas focadas as mais espertas de todas. Como elas conseguem isso? Como elas conseguem fazer escolhas e manter escolhas numa época feita para a distração?
Na outra parte do tempo, acho que são só umas coitadas que não entenderam o mundo em que vivem: esse mundo que te permite seguir um tutorial de maquiagem enquanto assiste a uma aula de Yale sendo você esse ser humano sem nenhuma capacidade de usar duas cores de base ou de frequentar Yale.
Só falam mal desses nossos tempos de muita informação, de conhecimento orkutizado, mas ninguém percebe que ser um generalista exige alta dose de coragem? Exige aceitar ser apenas um aprendiz para o resto da vida. É, só pra começar, abrir mão de qualquer ilusão de imortalidade através de uma contribuição, de um legado.
Generalistas não escrevem obras que ficam, não são fontes de autoridade em matérias, não são homenageados. Eles aprendem meia dúzia de coisas pela metade e morrem com essa meia dúzia de coisas, assim mesmo, pela metade. Tem algo de muito bonito e zen nisso aí.

2 de nov. de 2011

Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: “Eu sobrevivi”

26 de out. de 2011

3/11/2011
Prof. Dr. Lars Fant (University of Stockholm)
Palestra: "Dimensões no estudo da comunicação intercultural"
Horário: 14:30h
Organização: NELU e Linguística Aplicada
Sala: F2090  (FAFICH)

18 de out. de 2011

O Brasil está destruindo a atmosfera e o mundo ao queimar as florestas que são ótimas para capturar o CO2. Por quê? Para produzir carne, que vai fazer as pessoas morrerem cedo e ter vidas miseráveis e infelizes. Se toda essa área for substituída por vegetais, é possível produzir muito mais. Vamos comer plantas, é para isso que fomos criados.

15 de out. de 2011

não confunda convivência pacífica com amizade.

sabe assim, a pessoa que terminou a faculdade sem fazer estágio, entrou no mestrado e depois teve que devolver a grana da bolsa e ainda fazer estágio não remunerado na faculdade mais olha-como-a-gente-é-foda; e ainda ficou devendo favor pra professor babaca. Então, descobriu hoje que o problema do projeto novo poderia ser resolvido com a ajuda de terceiros, só que não tem mais como falar, porque esse-e-mail-não-existe... pode isso arnaldo? Porque eu tenho problemas, e quem poderia me ajudar a resolvê-los não-quer-mais-falar-comigo. Ah, e tá chovendo. É tipo o Mc dia infeliz?

12 de out. de 2011

Jobs

“Enquanto Richard Stallman, o pai da Free Software Foundation, advoga por uma internet livre e por uma cultura aberta tanto na parte de hardware quanto de software, Steve Jobs conseguia se mostrar mais radical do que Bill Gates, historicamente o grande antagonista da cultura open source, quando o assunto era a lógica proprietária. Os aparelhos de sua empresa nem funcionavam com peças que fossem fabricadas para outros aparelhos e o condicionamento fechado da App Store, a loja de aplicativos da Apple, foi o que permitiu a ascensão do Google e de seu sistema operacional Android – favorável à mentalidade aberta – no setor de telefonia celular. Enquanto a natureza aberta da web foi o que permitiu sua popularização, a Apple funcionava como um condado medieval, erguendo muros altos e fortes para controlar seu próprio reino. E isso é só um aspecto do ‘mau Jobs’, convenientemente esquecido nesses dias de luto. Pessoalmente, ele era tido como um chefe cruel, intolerante, desumano. Em uma reportagem do jornal inglês Guardian, um ex-funcionário da Apple comparava a convivência com Steve Jobs a trabalhar sob a mira de um lança-chamas. Orgulhava-se de não fazer caridade e estacionava na vaga de deficientes, só porque podia. Isso sem contar a censura no ambiente digital que criava. Nudez, nem em quadrinhos. Só para ficar num caso mais clássico, quando, em 2010, a empresa censurou uma versão em quadrinhos do Ulysses, de James Joyce – ironicamente o maior romance do século 20 já havia ido a julgamento, em 1933. E nem é preciso entrar em detalhes sobre a taxa de suicídios na Foxconn, empresa que fabrica os aparelhos da Apple na China, e nas condições sub-humanas em que os produtos de sua empresa eram fabricados. Nada disso tira a genialidade do morto. Mas é bom separar uma coisa da outra. Um bom homem de negócios não é, necessariamente, um homem bom.”

Ser um bom homem de negócios não o torna um homem bom, de Alexandre Matias

11 de out. de 2011


Feira no ICB de produtos de agricultura familiar e urbana abre hoje

terça-feira, 11 de outubro de 2011, às 7h08

Hortaliças e frutas produzidas sem agrotóxicos, mel, chá, arroz integral, farinha de mandioca, produtos fitoterápicos e de saúde feminina serão vendidos hoje, dia 11, das 9h às 14h, em mais uma edição da Feira Terra Viva, que será montada no Diretório Acadêmico da Biologia, no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), campus Pampulha.
O evento iniciativa pretende formar um núcleo de consumo na UFMG (e região) de produtos provenientes de agricultura familiar e agricultura urbana da região metropolitana.

O evento tem apoio do DA da Biologia, do Grupo Aroeira da UFMG e Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas.

28 de set. de 2011

Me acalmo ao ver seu nome. olho para ele diariamente, como se fossem seus olhos (e assim te enxergo). tranquiliza-me saber-te tão longe, que não possa me fazer temer essa distância que existe agora, e à qual chegaríamos, inevitavelmente. sinto-me bem em ter com você esse convívio civilizado, entre o meu e o seu nome. trocar palavras amenas. Ainda assim, descobri mil maneiras de dizer o seu nome: com amor, com ódio, urgência ou medo. gosto de como eu te vejo. porque sou cega, e não te escutarei mais. não digo mais seu nome em voz alta para que não me confunda em todo o meu paladar que sempre foi seu. silêncio e escuta. eu falo. e você não me ouve.

27 de set. de 2011

Destruição

“Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer eternamente.”

Carlos Drummond de Andrade

12 de set. de 2011

Mesa Redonda Online: "Com quantas liberdades se faz uma canoa?"

15/setembro/2011 às 21h


Palestrantes:
Daniervelin Pereira (Texto Livre), Wilkens Lenon (Associação SoftwareLivre.org) e Frederico Guimarães (SLEducacional).
Debatedores:
Adelma Araújo (Texto Livre) , Icaro Silva (Texto Livre)  e Hugo Leonardo Canalli (Texto Livre)
Coordenação da mesa:
Ana Cristina Fricke Matte (ELMC/UFMG/Texto Livre)
acesso:
http://www.textolivre.pro.br/chatslide
Atenção: sala moderada na primeira hora (somente são publicadas as mensagens dos integrantes da mesa), depois abre para participação do público.

PROMOÇÃO:
curso de Especialização em Ensino de Línguas Mediado por Computador/FALE/UFMG

27 de ago. de 2011

Blade Runner Waltz

Em mil novecentos e oitenta e sempre,
ah, que tempos aqueles,
dançamos ao luar, ao som da valsa
A Perfeição do Amor Através da Dor e da Renúncia,
nome, confesso, um pouco longo,
mas os tempos, aquele tempo,
ah, não se faz mais tempo
como antigamente
Aquilo sim é que eram horas,
dias enormes, semanas anos, minutos milênios,
e toda aquela fortuna em tempo
a gente gastava em bobagens,
amar, sonhar, dançar ao som da valsa,
aquelas falsas valsas de tão imenso nome lento
que a gente dançava em algum setembro
daqueles mil novecentos e oitenta e sempre.



Paulo Leminski
Eu queria você. Você antes de tudo aquilo.

22 de ago. de 2011


quando cheguei ao trabalho me dei conta que estou vestida com estampas de pijama total. Xadrez e listras.tipo desejo  inconsciente de ficar em casa às segundas... de pijamas. Não, não está bonito. 


19 de ago. de 2011

Alzheimer

- Mãe, você vai sair sem pentear o cabelo? De novo?
- Hahahahahaa... esqueci filho!
- Mãe, tá dificil ficar cuidando tanto de vc...
- Fofo demais vc!!!

5 de ago. de 2011

O paradoxo de Amy Winehouse, por Contardo Calligaris, na Folha de hoje
Stéphanie, minha enteada, tem 11 anos: ainda é menina, mas é já moça. Assim que foi informada da morte de Amy Winehouse, ela veio até minha escrivaninha e, simulando o choro inconsolável de um nenê, perguntou: “Você está sabendo que morreu minha cantora preferida?”.
Justamente por ela simular o choro e se esforçar para ser engraçada, pensei que devia estar sofrendo muito. A coisa se confirmou no meio da noite, quando Stéphanie acordou, e, para que reencontrasse o sono, foi preciso que alguém conversasse com ela sobre a vida e a morte de Amy.
Teria gostado de poder oferecer a Stéphanie uma boa explicação pela dureza da vida e da morte de sua cantora preferida -por exemplo, dizer que Amy teve uma infância muito triste, que nada em sua vida adulta pôde compensar; ou, então, que ela teve sorte na vida profissional, mas não no amor, e se perdeu nas drogas e no álcool por desesperos sentimentais. Mas o que sei da infância e dos amores de Amy é só fofoca.
Sem mentir nem inventar, melhor deixar Stéphanie lidar com este enigma: alguém pode ter um extraordinário talento, gostar de exercê-lo, alcançar sucesso e reconhecimento, amar e ser amado por um ou mais parceiros e, mesmo assim, esbarrar num vazio que nada consegue preencher.
Stéphanie também tinha lido sobre a maldição dos 27 anos, que, antes de Amy, teria pego Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain etc. Como é normal na sua idade, ela parecia sensível à “glória” de morrer jovem (ou talvez de não viver até se tornar tão chato quanto os adultos).
Foi fácil desvalorizar a morte precoce mostrando que ela é, justamente, um ideal muito antigo: o rock apenas retomou o lugar comum romântico do poeta que vive tão intensamente que, como Ícaro, queima suas asas e cai antes da hora, em pleno voo. Em suma, eu não tenho nada contra viver intensamente; ao contrário, artista ou não, acho que a gente deve viver da maneira mais intensa que der. Mas resta o seguinte: a ideia de que viver intensamente consistiria, por exemplo, em encher a cara de absinto ou ópio é velha de 200 anos.
Agora, há uma coisa que pensei e que não disse a Stéphanie: no fundo, para mim, a história de Amy tem um valor pedagógico, não só (obviamente) como exemplo dissuasivo (“Olhe o que pode lhe acontecer se você beber ou se drogar”), mas também como exemplo “positivo”.

Como assim, positivo???
Concordo, a morte de Amy é um horror e uma estupidez, mas também lembra que viver é uma coisa séria, com apostas e riscos sérios, a começar pelo risco de perder a própria vida antes da hora. Você dirá: “Alguém duvida disso?”. Pois é, constato que há um monte de gente tentando convencer nossas crianças de que a vida é feita de gritinhos, compras e namoricos que só servem para trocar trivialidades online com amigos e amigas.
Até a morte de Amy, eu pensava que o cantor preferido de Stéphanie fosse Justin Bieber. Ora, é possível que Bieber seja uma espécie de Dorian Gray (uma cara de porcelana que esconde dramas e anseios humanos), mas o fato é que ele promove uma imagem de bom moço num mundo intoleravelmente cor-de-rosa.
“E daí?”, dirão alguns pais, “não seria esse o adolescente ideal com quem deveríamos gostar que nossas filhas saíssem, em sua primeira ida ao cinema sozinhas com um garoto?”. E acrescentarão: “Você quer o quê, que sua enteada seja parecida com Justin Bieber ou com Amy Winehouse?”.
Claro, é um golpe baixo: ninguém quer que sua filha acabe como Amy. Mas devolvo a pergunta: será que Justin Bieber é mesmo melhor? Stéphanie será mais protegida se ela permanecer numa pré-adolescência à la fã de Justin Bieber. Mas protegida de quê, se não da própria vida? Entre imaginá-la errando para sempre num corredor de shopping e imaginá-la numa balada que pode acabar na sarjeta à la Amy, a escolha não é fácil. E, na comparação, Amy passa a simbolizar minha esperança (e meu receio, indissociavelmente) de que Stéphanie cresça e se torne mulher, com desejos próprios, fortes.
É o paradoxo de Amy: o que você prefere, uma filha que se perca tragicamente nos excessos do desejo ou uma filha que chegue à vida adulta sem ter conhecido outros desejos do que os que surgem nas conversas sobre marcas de mochilas e sapatos?

27 de jul. de 2011

O que me constitui como sujeito é minha pergunta. O que busco na fala é a resposta do outro. Definimo-nos e nos formamos pelo outro, pelo olhar e pela resposta do outro.[...] Sem a mediação da palavra, que nos possibilita ser reconhecido pelo outro, somos seres isolado, incomunicáveis, irreconhecíveis. Nessa estrutura de percepção, a possibilidade de nos fazermos reconhecer é conseguir que o outro seja tocado pela nossa palavra. [...] Perco-me se outro fica com ela e não me retorna. É preciso que me devolva a palavra mediante um sentido que me faça compreender que minha palavra o tocou e ele me reconheceu. Quando lanço minha palavra é a mim mesmo que lanço. Só ela pode trazer o reconhecimento que me nutre, que me constitui. Ela diz de mim, porque ela sou eu.
Eco (1997, p. 72)

18 de jul. de 2011

Oi?

Para Freud são três as principais fontes de sofrimento: o próprio corpo, o mundo externo e o relacionamento com os outros homens. Esse último é para ele a principal fonte de sofrimento humano.
  • A tarefa de evitar o sofrimento coloca a de obter prazer em segundo plano. A felicidade “plena”, idealizada, estará então próxima da quietude – a morte.
  • Outra técnica para afastar o sofrimento reside no deslocamento da libido – em reorientar os objetivos pulsionais (sublimação). Trata-se da produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual. Exemplos desse processo: alegria do artista em criar, a do cientista em solucionar problemas ou descobrir verdades. Mesmo assim, tal estratégia não proporciona proteção completa contra o sofrimento.
  • Há outras formas de obter satisfação: o rompimento do vínculo com a realidade. A satisfação é obtida através de ilusão, vida da imaginação.
  • Outra forma de busca da felicidade é através do amor. O amor nos proporciona nossas mais intensas experiências de prazer, no entanto, é também a condição que nos achamos mais indefeso contra o sofrimento. Quando amamos e perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor nos encontramos desamparadamente infeliz.
Conclusões importantes de Freud:
  • A satisfação é sempre parcial, mantém-se sempre algo da insatisfação.
  • A insatisfação produz intenso mal-estar. A felicidade “plena” não é possível.
  • As satisfações são parciais e substitutivas.
  • “O programa de tornar-se feliz, que o princípio do prazer nos impõe, não pode ser realizado, contudo, não devemos – na verdade, não podemos – abandonar nossos esforços de aproximá-lo da consecução, de uma maneira ou de outra” (102).
  • A sabedoria popular nos aconselha a não buscar a totalidade de nossa satisfação numa só aspiração.
  • “Existem, como dissemos, muitos caminhos que podem levar à felicidade passível de ser atingida pelos homens, mas nenhum que o faça com toda segurança” (104).
A satisfação (evitar o desprazer) é sempre parcial. A satisfação plena, total é impossível. Ela só ocorreria com a morte.

INHOTIM



16 de jul. de 2011

O motoboy da cabeça amassada








Na primeira vez que ele se aproximou do meu carro no sinal fechado, achei que era mais um dos muitos mendigos e/ou fumadores de crack que infestam a região, favorecida, para eles, pela presença do Minhocão, viaduto-monstrengo que enfeia e deteriora este pedaço de São Paulo, mas que virou o maior abrigo para desvalidos que já vi na vida.
O rapaz (20 e poucos anos) veio titubeando apoiado num cabo de vassoura longo. Quando foi chegando mais perto, o olhar vazio e perdido no horizonte contrastava com as roupas dignas e asseadas e o jeito manso.
Com a voz empolada, chegando perto da janela, disse:
- Oi tio, pode me ajudar? Eu era motoboy, sofri um acidente e fiquei cego. Agora não posso trabalhar, o senhor não tem um trocado?
Foi quando eu percebi que aquele rapaz loirinho de cabelos encaracolados tinha um baita afundamento na testa. Praticamente não havia cicatriz, apenas aquela depressão côncava, como se uma bola de futebol tivesse atingido uma superfície macia. Não era macia:
- Foi um caminhão. Eu estava de capacete, sim, mas ele quebrou. Enfiei a cabeça na carroceria e agora fiquei assim. Mas tudo bem, né, a gente vai se virando. Deus ajuda e o pessoal aqui também. O senhor tem um trocado?
Eu tinha e dei, seguindo meu caminho quando o sinal abriu.
O tal cruzamento fica na rua de casa, portanto eis que estou passando por ali dias depois e lá estava ele de novo, se destacando entre os nóias (ou craqueiros) imundos e alucinados, com seu jeitinho tropicante entre os carros.
- Ei, Motoboy, vem aqui!
Chamei porque queria dar uma graninha para o cara e perguntar mais sobre sua tragédia pessoal, cuja sequela ele jamais conseguiria esconder, com aquele afundamento que vai do meio dos olhos até o couro cabeludo.
Mas ele demorou tanto para chegar, atrapalhado entre os veículos e a sarjeta, que mal consegui colocar a moeda na sua mão.
- Deus lhe pague, tio!
Na manhã seguinte, a cena se repete, mas desta vez parei bem ao lado dele.
- E aí, Motoboy, tudo em riba?
- Oi, tio, o senhor por aqui de novo...
- Ué, como você sabe que sou eu?
- Pela sua voz e pela cor do carro. Vermelho lindão né, tio?
- Mas você enxerga alguma coisa, então?
- Só o vulto, viu, tio. Depois do acidente fiquei sem enxergar nada, mas aos pouquinhos voltou alguma coisa. Agora dá para ver as cores e, bem de perto, se é homem ou se é mulher. Mas não chego muito perto, não, que a pessoa assusta, né tio? Com esse amassado na cara, já viu, né, assusta mesmo...
- Mas você vai voltar a enxerga bem de novo, Motoboy?
- Vou não... O médico disse que vai ficar assim, mesmo, só no vulto. Tudo bem, né tio, eu não reclamo, não, vou tocando a vida. Sempre aparece gente bacana pra dar uma força.
Quando ele ouve o barulho dos carros acelerando para seguir em frente, se afasta com cuidado, cutuca o chão com o cabo de vassoura e sobe ligeiro na calçada, com tempo de virar-se para o vulto vermelho que se afasta e gritar:
- Bom dia, tio, qualquer coisa 'tamos aí.
Ok, se eu precisar de alguma coisa que ele me possa dar, como aquele seu otimismo...
E está sempre por ali, mesmo, vejo-o com frequência, vira e mexe deixo na sua mão uma moeda de R$ 1 ou uma nota de R$ 2, o que o faz bem contentinho.
- Falou aí, tio do carro vermelho. Valeu!
Sigo sempre preocupado com aquela figurinha pequena, mirrada e frágil, praticamente meu vizinho Motoboy.
Preocupado?
O que mais de ruim pode acontecer com um rapaz que não vê, mal se locomove e exibe um rombo no meio da testa?
Ser atropelado por um motorista mais afoito?
Ser assaltado pelos fumadores de crack sem-noção?
Apanhar de um daqueles bebuns brigões que também circulam por ali?
E sua família, como será que trata o rapaz?
Ele tem família?
Hoje passei pelo cruzamento de novo com a ideia de dar-lhe mais um trocado e obter respostas a essas perguntas aflitivas. Mas ele não estava lá...
Para não ficar ainda mais preocupado, pensei:
- Tudo bem, amanhã ele está de volta.
Tomara, tomara...
Luiz Caversan Luiz Caversan, 55 anos, é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos Cotidiano, Ilustrada e Dinheiro, entre outros. Escreve aos sábados para a Folha.com.

8 de jul. de 2011

“Pessoas sensíveis e corretas também podem desamar, ou o amor pode desviar o olhar. Se a parte física do amor acaba e fica só a amizade segurando a relação, o amor pode ter olhos para outro amor — e aí, vai calar? São as pessoas que celebram compromissos e juras; o amor, eterno enquanto dura, nem sempre assina embaixo. O amor se compromete é com a atenção, a gentileza, o bom humor, o carinho, o calor, o desejo satisfeito, a mesa essencial, a solidariedade, o capricho na relação. Tudo isso pode faltar, e então os olhos procuram outros olhares.”
Trecho da crônica A Hora de Acabar, de Ivan Angelo

7 de jul. de 2011

Rosa Guimarães

Além de conceber formas de “ver no escuro”, podemos pensar na obra de Rosa como convite a ver através de lugares obscurecidos, tidos como desprezíveis, ou mesmo recalcados pela “luz solar”. Dentre sua vasta obra, gostaria de destacar dois contos de Primeiras Estórias, que me parecem emblemáticos desse convite a alternativos modos de ver: são os contos que tratam da construção da ”grande cidade” (Brasília?), pelo olhar de uma criança, o Menino. “As margens da alegria” e “Os cimos” denunciam a associação entre conhecer e dominar, a sujeição dos seres do mundo a coisa a ser manipulada. Ocupar o interior do país, pôr abaixo a mata, construir “a grande cidade”, revela-se, de maneira indireta, um projeto de afirmação de poder. O espaço a ser ocupado, repleto de seres que o Menino embevecido descobre, é reduzido a objeto a ser conquistado; os seres, reificados.
O Menino, ao contrário dos adultos, vê cada coisa, cada ser que descobre, reconhecendo sua singularidade, sua cor, sua forma, deixando-se tocar, afetar, transformar pelo que vê. Já os adultos lidam com os seres como sendo exemplares (ou seja, um exemplar de uma categoria, e não um ser único), a árvore é uma entre outras, o peru um entre outros, o tucano, para fazer o Menino contente, deve ser capturado. O Menino, ao contrário, abre-se, sensivelmente, aos seres que vem a conhecer, numa associação entre conhecer e amar. Enquanto os adultos ao conhecer destroem, sendo a derrubada da árvore momento forte, mantendo-se sempre idênticos a si mesmos e tornando o mundo poeirento, cinzento (ao construirem o aeroporto); o Menino tem o corpo vivo, sensível, capaz de ver e sentir o corpo do outro, dos outros seres, de se relacionar sensorialmente.

25 de jun. de 2011

sempre

tive essa sensação. de que a criança tem que poder cantar ou desenhar onde ela quiser. porque é muita falta de poesia e amor, delimitar onde você pode sonhar... então, sempre, em todas as paredes e papéis das casas onde a gente morou, tava liberado pra desenhar e sonhar... e eles aproveitaram muito dessa prerrogativa. daí que hoje, moram aqui, nesta casa, um guitarrista e uma pianista, novinhos em folha. e com um caminhão de sonhos e alegrias. e eu acho tão lindo...

23 de jun. de 2011

amo

quem

disse que entender é aceitar? é que eu sou ególatra.entendo, mas não aceito. certo arnaldo?sei lá, acho que se me revoltar vou precisar botar TANTA COISA na roda, que é melhor nem começar. porque tá além das forças no momento.então beijo,sucesso.

22 de jun. de 2011

a gente

sempre fala sobre isso. ela acha insegurança e falta de profissionalismo o fato de eu  perguntar, para quem quer me contratar, se a pessoa já leu alguma coisa que escrevi e tals. e 100% das vezes a resposta é sim, e ainda assim eu insisto em perguntar se ela quer mesmo me dar aquele trabalho. porque tem essa vibe "eu-sou-engraçadinha", e é sem querer, quando vejo tá lá, a ironiazinha que irrita metade do mundo.eu já acho que é dar a real pra pessoa. cansada de ouvir: - é, ficou bom, mas é muito irreverente, não é o nosso perfil. os artigos acadêmicos passam por uma sessão corta/corta comigo mesma e mais meia dúzia de pessoas. não vivo disso, isto hoje é meu freela. então me dou ao luxo de não me importar e de só pegar também o que eu gosto. então essa empresa bem careta me pediu pra fazer pequenos textos no site sobre o evento que eles patrocinam, a pessoa que me contratou já me leu. pra mim é tranks, só não pode depois vir me dizer que não é legal falar que a classe média é cafona, que os apartamentos de hoje têm mais espaço para os carros do que para as pessoas e que contratar arquiteto até pra pendurar seus quadros é terceirizar o seu mau gosto (claro que não foi tão direto e nem tudo no mesmo texto) . pode sim seu assessor, não pode é um site e assessoria de imprensa sérios não saber usar a crase.não pode achar que o seu cliente é burro ou incapaz de entender ironias.

20 de jun. de 2011

Caê

"Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
 E o coração que é soberano e que é senhor..."

17 de jun. de 2011

Por isso que eu amo o Contardo...

CONTARDO CALLIGARIS
Por que acaba um casal?
Nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como se fosse uma "tumba do amor" NO DOMINGO passado, Dia dos Namorados, um amigo mandou flores para sua mulher com este bilhete: "Posso ser seu namorado ou continuo sendo apenas seu marido?". A frase foi bem recebida. É que, para nós, "namorado e namorada" pode ser muito mais do que "marido e mulher". Em regra, nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como uma tragicômica "tumba do amor". Na última sexta, na Academia de Ideias de Belo Horizonte, durante um bate-papo com João Gabriel de Lima sobre meu último livro, ao falar de amor e casais, eu propus o seguinte: 1) todos tendemos a amarelar diante de nosso próprio desejo; 2) o casamento nos permite acusar alguém de nossa própria covardia -assim: eu quero fazer isso ou aquilo, mas tenho preguiça e medo; por sorte, agora que me casei, posso dizer que desisto porque assim quer minha parceira; 3) um casal, para valer a pena, não deveria servir para justificar as desistências de nenhum de seus membros; ao contrário, ele deveria potencializar os sonhos e os desejos de cada um dos dois. Uma mulher me lembrou, com razão, que até esse tal casal que vale a pena pode acabar. E perguntou: por quê? Existe uma sabedoria popular resignada sobre a duração de um casal. Os sentimentos do namoro viveriam, no casamento, uma decadência progressiva inelutável. E os casais continuariam unidos mais por inércia do que por gosto. Alguns dizem que a rotina e a proximidade desgastam os sentimentos. Ou seja, o apaixonamento sempre é fruto de alguma idealização, e de perto ninguém parece ideal por muito tempo. Será que o remédio seria manter a distância para não enxergar as falhas do outro? Respondo: amar não significa não enxergar os defeitos do outro, mas achar graça neles. Uma amiga perde um celular por semana; ela sabe que uma relação amorosa está acabando no dia em que seu homem, em vez de achar graça na sua desatenção, irrita-se com seu descuido. Outros acusam o tédio. A novidade (valor mor da modernidade industrial) seria o ingrediente essencial (e, por definição, efêmero) do casal feliz. Ou seja, felizes são só os recém-casados. Respondo: todos nós, neuróticos, amamos a repetição e a praticamos com afinco. A rotina, portanto, não deveria nos afastar do amor. Volto, portanto, à pergunta: por que um casal acaba? Levantei a questão no Twitter, e
_Angela_ Jesus me escreveu que, segundo Anaïs Nin, os casais não morrem nunca de morte natural, mas por falta de cuidados, de atenções e de esforços. A citação me levou a pensar nos meus próprios casamentos fracassados; não cheguei a resultado algum, salvo o fato de que não deveríamos chamar necessariamente de fracasso um amor que acaba; erigir a duração em valor é uma ideia perigosa, que pode transformar separações bem-vindas e necessárias em processos laboriosos e infinitos. No meio dessas reflexões, no domingo, fui assistir a "Namorados para Sempre", de Derek Cianfrance, que me tocou fundo, por ser justamente a história de um amor que não é mais possível. Isso, sem que os protagonistas consigam saber por que "não dá mais": nenhum deles é o vilão da crise, e nenhum deles é capaz de dizer o que está errado e deveria mudar para que o casal tivesse uma chance. A julgar pela idade aparente da filha, o casal do filme dura há mais ou menos cinco anos. Em cinco anos, os namorados que, no primeiro encontro, haviam dançado e cantado na rua, cheios de alegria e de encantamento, transformaram-se num casal de estranhos que se encaram antes de se enxergar. O que aconteceu? Não há resposta. Essa é a força do filme, que acua cada espectador a se perguntar o que foi que aconteceu a cada vez que ele ou ela amou, e o amor se perdeu. Não é preciso que haja discordância brutal, traição ou desamor para que um casal se perca. Claro, é sempre possível racionalizar e apontar causas: no caso do filme, ao longo dos cinco anos, talvez ela tenha "crescido" profissionalmente (como se diz) e alimente agora ambições que ele não pode compartilhar porque, para ele, o casamento e a filha continuam sendo as únicas coisas que importam. Pode ser. Mas talvez o fim de um amor seja um fenômeno tão misterioso quanto o apaixonamento. Talvez existam duas mágicas opostas,

13 de jun. de 2011

(...) O ecletismo do evento, que não privilegia, de modo algum, somente manifestações favoráveis ao software livre e à EAD, traz a público críticas, receios e mesmo mitos com que nós, das comunidades de EAD e de Software Livre, devemos lidar com seriedade.
Hoje publicamos no blog da acris quatro trabalhos que ficaram nas posições dos mais visitados (dois ficaram em terceiro lugar):
Software livre e gramática: regência verbal no revisor de textos do BrOffice (http://www.textolivre.pro.br/blog/?p=1107)
A utilização da Plataforma Moodle pela Universidade na Educação a Distância (http://www.textolivre.pro.br/blog/?p=1012)
A importancia dos softwares livres na EAD (http://www.textolivre.pro.br/blog/?p=1009)
A resistência dos estudantes de Engenharia Química ao software livre (http://www.textolivre.pro.br/blog/?p=996)
Não se esqueça: o evento segue até o dia 16 e comentaristas registrados recebem certificado de participação.
Veja a programação para escolher as palestras que lhe interessam: http://ueadsl.textolivre.pro.br/2011.1/papers/pub/

12 de jun. de 2011

A Falsa Tartaruga prosseguiu: 
- Fomos educados da melhor maneira... De fato, íamos à escola todos os dias...
- Eu também vou à escola todos os dias. Disse Alice.
- Não é preciso envaideceres-te tanto com isso. Continuou ela.
- E tinhas disciplinas suplementares? Perguntou a Falsa Tartaruga ansiosamente.
- Tinha. Aprendíamos francês e música. Respondeu Alice, indignada.
-Ah! Então a tua escola não era lá muito boa!- disse a Falsa Tartaruga, muito aliviada.
(...) - Segui apenas o curso normal. Prosseguiu a Falsa Tartaruga.
- Em que consistia? Inquiriu Alice.
- Reler e escrevinhar, é claro, para começar, e depois os diferentes ramos da Aritmética: ambição, distração, desfeamento e escárnio. Respondeu a Falsa Tartaruga.
- Nunca ouvi falar de desfeamento! Atreveu-se Alice. 

Palestra

6 de jun. de 2011

Mais de 4 mil livros de ciência de graça

06/06/2011
Agência FAPESP – A National Academies Press (NAP), editora das academias nacionais de ciência dos Estados Unidos, anunciou no dia 2 de junho que passou a oferecer seu catálogo completo para ser baixado e lido de graça pela internet.
São mais de 4 mil títulos, que podem ser baixados inteiros ou por capítulos, em arquivos pdf. A NAP publica mais de 200 livros por ano nas mais diversas áreas do conhecimento, com destaque para publicações importantes em política científica e tecnológica.
Os livros podem ser copiados livremente a partir de qualquer computador conectado na internet e mostram o esforço da NAP em democratizar o acesso ao conteúdo produzido pelas academias norte-americanas. As academias, que atuam há mais de 100 anos, são: National Academy of Sciences, National Academy of Engineering, Institute of Medicine e National Research Council.
Os títulos em capa dura continuarão à venda no site da NAP. A opção de ler de graça parte de livros ou títulos inteiros começou a ser oferecida pelo site em 1994. A oferta de todo o catálogo de graça para ser baixado em pdf foi feita primeiro para os países em desenvolvimento.
Entre os títulos que podem ser baixados estão: On Being a Scientist: A Guide to Responsible Conduct in Research, Guide for the Care and Use of Laboratory Animals e Prudent Practices in the Laboratory: Handling and Management of Chemical Hazards.
Mais informações: www.nap.edu

5 de jun. de 2011

Filhote

Gatín e eu sozinhos em casa, tranquilamente, no café da manhã. ele tentando atacar o meu prato.eu tentanto aperta-lo ao máximo, sem machucar. uma borboleta ou sei lá o quê entra pela janela. Gatín enlouquecido destrói a mesa de café da manhã. eu sem ação, tentando entender o caos. Gatín dormindo tranquilamente no sofá, eu arrumando a bagunça e lamentando o jornal molhado até agora. Bom domingo.

4 de jun. de 2011

a mania de querer entender. por que eu sei que não dá para seguir adiante com um pacotinho de coisas mal resolvidas guardadas em algum lugar, gaveta ou coração. então eu vou lá, toda semana, como eu tinha combinado, levando o dinheiro que poderia me dar várias bugigangas fofas por semana. porque, né. eu preciso entender. mas é ruim, depois de despedaçar meu coração e autoestima, só ouvir – tem lencinho aí do lado.
daí eu volto pra casa, coloco Gatín no colo e como uma panela de brigadeiro.

26 de mai. de 2011

na folha de ontem

Eu, ela e o Keith, por Antonio Prata
Quando me perguntam “e aí, tudo bem?”, eu respondo que sim, “tudo ótimo”, mas é mentira. Não está tudo ótimo, está tudo péssimo: faz um mês, minha mulher se apaixonou pelo Keith Richards -e não tenho a menor ideia do que fazer.
A paixão foi despertada pela biografia do guitarrista, que eu mesmo, num desses irônicos maus passos da vida, lhe dei de aniversário. Cazzo, como eu ia imaginar que o livro do mais feio dos Rolling Stones, aquele ex-pirata bexiguento, pudesse fazer brotar em minha amada -uma moça fina, discreta e, até então, equilibrada- semelhante sentimento?
Não foi amor à primeira vista. No começo, ela ficou chocada. Enquanto lia, esticada no sofá, fazia caretas: “Nossa, que horror, ele comprou meio quilo de heroína!”, “Uau, que imbecil, ele jogou uma faca no produtor!”, “Que isso?! Ele deu um tiro no chão do hotel, porque o Charlie Watts tava fazendo barulho no quarto de baixo!”.
Aos poucos, contudo, vi em seu rosto o asco se transformando em admiração, a delinquência sendo interpretada como liberdade. “Olha isso: eles voltavam de uma festa, muito loucos, lá na França, pegavam o veleiro do Keith e iam tomar café da manhã numa ilha!”, “Putz, ele não tinha casa, morava cada semana com uma groupie diferente!”.
Eu, da minha poltrona, um livro aberto no colo, um copo de Coca Zero na mão, a léguas de distância de groupies, heroína, facas e veleiros, apenas ouvia, apreensivo.
Ninguém é menos Keith Richards do que eu. Nunca briguei. Não discuto nem com flanelinha. Aventura, para mim, é ir até o Sesc Belenzinho, num domingo.
Se minha mulher caísse de amores por um escritor, por um arquiteto, um advogado, eu teria uma margem de manobra, talvez conseguisse mostrar que sou mais legal do que o outro, mas como competir com um cara que, aos 70, quebra a cabeça caindo de um coqueiro -e só se dá conta do estrago uma semana depois?
Será que era esse o tipo de homem que ela esperava que eu fosse, desde que nos conhecemos, há quatro anos? Será que, enquanto eu me esforçava para usar corretamente os talheres e não falar de boca cheia, ela sonhava com brigas de cadeirada e moshes de três metros de altura?
Quinze dias atrás, cansado de sofrer calado, não deixei que ela terminasse de me contar sobre uma suruba em Ibiza, em 1971; virei minha Coca como se fosse Jack Daniels e perguntei, na lata: “Você está a fim desse cara?”. Passado o susto, ela assumiu. “Tô. Um pouquinho.”
No bar, diante de uma cachaça, ouvi os consolos de um amigo. Essas paixões platônicas são muito comuns, me garantiu. Confessou-me que ele mesmo, ano passado, caiu de amores pela Lady Gaga. Depois esqueceu. Um conhecido nosso, disse-me, quase enlouqueceu com a Lídia Brondi na reprise de “Vale Tudo”. “Pensa no lado bom: antes o Keith Richards do que o Capitão Nascimento, né?” Verdade.
Em breve, ele jurou, minha mulher terminará de ler a biografia e a paixonite sumirá, provando que três simples acordes de guitarra jamais abafarão a bela sinfonia que, ano após ano, lentamente, estamos compondo. Torço para que isso aconteça. (E para que Keith Richards resolva, qualquer dia desses, subir novamente num coqueiro).
Mais Antonio Prata > http://antonioprata.folha.blog.uol.com.br/